terça-feira, 27 de maio de 2014

Um dia de simples talvez...

Me identifico assim: em papéis. De carta, talvez. Preste atenção, eu convido, mas cuidado: não vai me entender mesmo assim. Fixar o olhar ajuda. Sou um quebra-cabeças incompleto, sem as peças do meio. Nem das pontas. Sou clichê. Sou sem freio, sem porteira, sem limite. Sou feita de urgências. Tenho pressa. E fico parada, na varanda, contemplando o mar em imagens do que não há. Não sei escapar de mim, nem quero. Sou fácil se você me alcançar. Será que você consegue? Sim, agora é com você. Você me lê? Me sabe? Você existe de corpo de pegar e boca de beijar? Está aí, trabalhando, dormindo, sonhando? Está aí, fazendo uma lista de música que vai batizar com meu nome? Está lendo? Beijando outra boca? Viajando? Inventando sabores e dizeres? Não deve haver erro no que agora digo: me saiba. Me desvende. Me desvele (e ignore as próclises equivocadas). Adiante-se ao destino. Chegue antes. Roube um pouquinho e ajeite o seu caminho pra encostar no meu. Eu sei o bom da espera e gosto dos percursos longos. Mas há Dias de muito querer. Não se atrase. Ocupe meus espaços. Ponha abaixo a porteira. Porque, só hoje, vou pensar que talvez seja você, com seu ar meio sério, meio moleque, quase doce. Talvez seja você dos grandes silêncios, sombras no rosto e dessa fome que adivinho. Talvez seja você, dos pequenos textos e das grandes surpresas. Talvez seja você, seu mar de serras e esse olhar de cinema. Talvez seja assim: tudo simples e fácil: uma palavra sua, uma palavra minha e desejar um encontro. Talvez não seja nada, só essa vontade de caber na tua mão, uma vez. Talvez eu seja do signo errado, da casa errada, do tempo errado. Talvez eu deva correr e te dizer toda essa coisa que eu tenho pra dizer. Talvez eu escreva. Ou assovie, como Bacall. Talvez eu me cale e você nunca entenda. Talvez não haja esquina pro nosso encontro. Eu quase adivinho seu corpo no meu, sua mão é quente e sua barba faz cócegas no meu rosto, nuca, colo, coxas. Talvez eu deva sentar e esperar todas as voltas que o mundo tem que dar ao seu redor, todas as chegadas e partidas, todos os intervalos e hiatos. Talvez eu tenha que arrombar as portas e plantar-me no jardim. Talvez eu tenha que lançar-me do porto e esquecer todas as âncoras. Talvez eu apenas quebre o espelho, baixe as cortinas e soluce um tiquinho. Talvez...
Talvez não seja nada, só esse roçar suave da tua mão na minha e esse desejo insuportável de me esquecer em você. 
E eu sigo, voltando à varanda, talvez seja o mesmo que dizer: À vida!

sábado, 3 de maio de 2014


Os meus olhos ardem. As minhas mãos tremem. Os meus pensamentos voam. E eu sobrevivo. Respiro novamente o ar da manhã tentando me lembrar em que dia estamos, ou mês, ou ano. Quais são os meus planos? Já não sei mais nadar nessa lama, e a cada passo que dou, mais me afundo. Criamos mundos sem portas ou janelas para nos protegermos e ficamos presos em nós mesmos. É o mal do século. Presos e submersos no medo. E o mundo ficará assim, completo de seres incompletos, procurando no outro o seu pedaço irrecuperável. Vivendo na beira do abismo, esperando do outro o empurrão fatal...

  À medida que as últimas horas deste ano escorrem pelos nossos dedos, não consigo deixar de me emocionar ao olhar para trás e contemplar a ...